Sessão O Caracol e o Extraterrestre
Texto por Julia Noá e Pietra Miranda
Essa pequena sessão é composta por “Ruby”, documentário sobre um artista chamado Ruby, seus processos e a relação que cria com o lugar que vive; e “Juca” curta-metragem de ficção em que vários amigos chamados Juca saem à noite para se encontrar. Aqui, somos instigados a olhar além do que realmente enxergamos, com dois filmes envoltos pelo mistério e o sobrenatural, pelo que não sabemos e o que se esconde da visão na penumbra por entre as árvores.
Na primeira parte, o cativante mundo e a rotina do pintor revelam nas entrelinhas um interesse pela questão da morte, em algum momento o narrador encontra um animal morto e diz estar achando vários ultimamente, as andanças dele sozinho na escuridão encontram os gritos do segundo filme, em que vários amigos pedalam pelo cerrado para longe da cidade chamando e procurando por alguém que parece ter se perdido. Ruby parece não ouvir e ao caminhar só, acende uma fogueira e a contempla em silêncio, enquanto os amigos se reúnem no alto de um morro ao redor de outra para assistir uma chuva de meteoros e procurar alienígenas. Os espaços abertos dos dois filmes, por mais que geograficamente distantes e em biomas completamente diferentes, se encontram aqui em uma tentativa de fugir das metrópoles e buscar algo oculto junto à natureza.
“A Caravela anuncia grandes mudanças”, um dos amigos profetiza ao usar um livro esotérico para ler uma mensagem. O final do documentário nos diz que o ser humano busca a experiência de estar vivo e conseguir transformar essa experiência em sua realidade, essa frase é carregada para a estória de Juca transformada em ação pelos jovens que ao andar aparentemente sem objetivo, aos poucos revelam a vontade de encontrar o extraordinário, e a busca de algo que transcenda o plano físico permeia todos os personagens da sessão.
A sessão conta com dois filmes que se entrelaçam nos devaneios. Ainda que distintos, Juca e Ruby, filmes-nomes-próprios, manipulam uma energia cósmica. Conjugando certo espírito lúdico com a errância melancólica, Juca e Ruby são filmes que prezam pelo vaguear. Nas planícies portenhas ou sob a chuva de meteoros em Brasília, os personagens percorrem caminhos labirínticos, como se no próprio ato de peregrinar houvesse encanto - enquanto os jovens de Juca perambular em direção à magia contida no que há de extraterreno, Ruby somatiza a natureza para dentro de seu próprio corpo e, na simbiose com o orgânico, deságua no extraordinário.
Ao unir os dois curta-metragens nesta sessão, a curadoria propõe à espectadora que se adentre no que há de lúdico nesses universos tão terrenos - seja na magia metódica de Ruby ou no encontro de multiJucas. No planalto e na planície, sob o céu alienígena ou dentro de um orquidário, os filmes são viagens interiores que se expandem até nós.