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Adarrum


 

2020 - 14 minutos
Dir. Thomas de Freitas



No livro Memórias da Plantação, Episódios de Racismo Cotidiano, Grada Kilomba inicia seu trajeto por tentar elaborar e apresentar os mecanismos do racismo a partir da utilização de máscaras de tortura utilizadas durante o período da escravidão. Ela afirma que: "a máscara representa o colonialismo como um todo [...]" e segue: "Ela simboliza políticas sádicas de conquista e dominação e seus regimes brutais de silenciamento dos/as chamados/as ‘Outros/as: Quem pode falar? O que acontece quando falamos? E sobre o que podemos falar?". Atualmente, ainda que tal máscara, enquanto instrumento, tenha ficado nesse passado do país, a máscara enquanto ideia, permanece no campo institucional, tal qual todo resquício colonial que segue alimentando as engrenagens de uma macroestrutura racista de silenciamento.

           

ADARRUM (2020), filme de Thomas de Freitas, vem para romper essa lógica, não apenas rompê-la, mas confrontá-la com voz e presença. De acordo com o filme, adarrum significa um "ritmo apressado, forte, contínuo, marcado unissonamente pelo agogô e por todos os atabaques, e com que, segundo a crença dos negros malês, se pode evocar qualquer santo"; no filme, vemos esses santos ocuparem as ruas de João Pessoa, não apenas como uma forma de reivindicar um espaço cultural, mas como um grito de resistência.

 

         Atualmente, é comum atrelarmos o significado de "violência" especificamente à força, no entanto, a palavra se origina no latim: violentia, que por sua vez, deriva do verbo violare, ou seja, violar, profanar, transgredir. Essa dissociação é fundamental para que possamos ampliar nossa compreensão a respeito das situações de violência presente em nosso cotidiano, e ADARRUM acerta ao fazê-lo. Inseridos numa realidade onde terreiros ainda são depredados e onde uma onda neopentecostal cresce ganhando força no país, o filme consegue permear sobre essas questões sem recorrer à exploração gráfica desse cenário de violência ou a diálogos explanatórios. Utilizando somente o adarrum e, o som direto da região, o filme consegue trazer as sutilezas desse embate de narrativas daquela região e as consequências da "modernização" pela qual passou a cidade de João Pessoa a partir do século XX. ADARRUM, nos vem como um lembrete, como uma proposta de combate ativo a intolerância afro religiosa à maquinaria racista de silenciamento e apagamento.

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