Filme de Domingo
2020 - 26 minutos
Dir. Lincoln Péricles
Mais uma vez centrado no Capão Redondo, Filme de Domingo (2020), de Lincoln Péricles, parte de amarras ternas para tratar do microcosmo familiar. Entre os vlogs de Dudinha, conversas na praça e sonecas na rede, Filme de Domingo é um passeio pelo cotidiano lento, mas constrói, na sagacidade, um registro particular desse universo até então inaudito.
Marcado pela chegada do personagem do tio, o curta-metragem reúne fragmentos de um domingo, que, conjuminados aos sons daquele espaço, das diferentes batidas, presentes também no trabalho da mãe beatmaker e também no momento em que brinca com sua filha na máquina de batidas, realizam um exercício contemplativo do espaço e das pessoas que ali habitam. A música, a brincadeira, o cinema na praça, a rua e a feira... o bairro e suas crias, sua cultura sonora.
Os personagens passeiam pelo bairro, experienciam a feira, a comida, as pessoas, somos convidados a viajar também em seus sonhos e ideias, sua sabedoria vinda de uma vivência real e sincera com o mundo que os cerca. A presença dos personagens em seu cotidiano, suas relações é de uma força tocante, é essa sabedoria com a qual o filme se conecta, das coisas simples, das coisas reais, da cultura transmitida de geração para geração.
Essa sabedoria é sensibilidade, com cuidado e carinho para onde se olha, para os solos regados. O filme olha de volta pra gente, compartilha conosco esse saber e prática para que também passemos adiante. Registrar, seja pela câmera de Dudinha ou pela de Lincoln, é um gesto de guardar aqueles que estão ao seu redor. Imagens daqueles que compartilham, que conversam e produzem.
Lincoln olha para seus pares com grandeza, ainda que trafegue por um raio pequeno da cartografia paulistana. Capão engole e se torna o mundo, reclama para si a possibilidade de gerência de suas próprias imagens e de como será exposto, se incumbe da tarefa rarefeita de filmar seus habitantes e sua geografia.
Texto por Julia Noá e Guilherme Lima de Assis
