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A Escola É Nossa


 

2020 - 24 minutos
Dir. Othilia Balades


Por uma câmera trêmula, carregada por uma rua escura, caminhamos até uma escola fechada em seu período noturno. Um som sombrio é montado junto com a sentença da reforma do ensino médio veiculada em um noticiário de TV e está dada a tensão da premissa, estamos ao lado de corpos que se preparam para ocupar uma escola ameaçada pelo plano do estado. Por este olhar de uma estudante da ocupação da Escola Estadual Fernão Dias Paes - localizada em Pinheiros, bairro da região Oeste de São Paulo - A Escola É Nossa! (2020) nos insere nos momentos iniciais da ocupação que se estendeu por longos 55 dias. O documentário retrata a estrutura da ocupação, trazendo-a enquanto corpo-fogo, coletivo, mobilizado e, sobretudo, organizado.

 

Em 2015 durante as ocupações, um momento desastroso dentro de um mandato desastroso, não era incomum o então governador Geraldo Alckmin utilizar as declarações públicas para questionar, naquele seu tom burocrático e paternalista, a legitimidade dos estudantes ou a organização daqueles grupos. Na repercussão de massa, a imagem dos estudantes era a de civis reivindicando educação, versus arruaceiros que “não deixam quem quer estudar assistir aula”. Mais tarde naquele ano, inclusive, Alckmin e sua polícia voltaram às vias públicas para lidar com os estudantes, porém em tom bem menos paternalista dessa vez.

 

Em A Escola É Nossa! vemos os alunos se apresentarem, trazerem seu recorte do que foi o movimento das ocupações e a dinâmica organizacional daquele coletivo. O filme nos apresenta os jovens à frente daquela ocupação em um grande corpo coletivo, orgânico. Atuam diante da câmera organizados, mobilizados em uníssono, porém singulares enquanto corpo-membro de um todo maior. A informação e o movimento dos estudantes é propagada tal qual sinapses, seja correndo para formar barreiras de carteiras escolares, para alimentar ou entoar gritos. O grupo de estudantes se organiza de forma intuitiva, desde a tomada de decisões, a mão de obra para segurar os portões e, na cozinha preparando o almoço de seus atuantes. Formam, membros, unhas e dentes de um corpo resistência, corpo revolução com toda a sua força.  O filme impulsiona, inflama, é juventude estudantil em combate com o estado, corpos políticos reivindicando seu arco narrativo na esfera política. 

 

De 2015 aos dias atuais, muita coisa mudou. O Brasil chegou a uma realidade que mesmo o pessimista mais pessimista talvez não ousasse descrever; revisitar o momento das ocupações através de um olhar de dentro do movimento estudantil e assistir aqueles jovens se mobilizando politicamente nos produz uma euforia calorosa, que deve ir além de pura adrenalina cinéfila. Sobretudo hoje, sobretudo no Brasil de agora. A Escola É Nossa! e suas personagens, organismos desse corpo maior, vem para romper a velha ideia de estudantes passivos à mercê de um sistema bancário e sucateado de educação, aqueles corpos, envoltos em chama ativa, nos relembra uma lição deixada por Malcolm: "na vida eu aprendi que se você quer conquistar alguma coisa é melhor fazer algum barulho".

Texto por Marco Freitas e Guilherme Lima de Assis

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