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Último Gás


 

2018 - 16 minutos
Dir. Edna Toledo


 

     EDNA, filme feito por Edna Toledo, mostra uma experiência da autora confrontando os objetos e os problemas de um mundo, no espaço de seu quarto, de modo a criar um caminho ondulante, com sua câmera e com sua voz. 

Edna movimenta esses objetos em cena com uma de suas mãos enquanto sua outra mão segura a câmera e enfoca em seus deslocamentos a partir de um impulso imagético, sonoro, intuitivo e experimental como podemos sentir pela variação no tom da voz, por vezes mais arranhada/revoltada, e repleta de indagações diante do que se filma. Nessa passagem, é como se ela se tornasse uma outra personagem em sua voz que repete falas alheias e opressoras sobre seu corpo, suas dores, sua vida e seus atravessamentos todos. 

      O processo de Edna de fazer o filme, pela forma como nos é mostrado, com as próprias mãos, num movimento espiralar, parece capaz de, criticamente, desmontar as práticas impostas, as agressões, as subjugações, os diagnósticos rotuladores, a medicalização e os remédios/drogas inoperantes que ela vai refletindo em EDNA num alongamento da imaginação e na reivindicação por uma outra forma de dizer sobre a própria vida e de sua posição, pelo improviso e pelo fluxo livre, por meio desse trabalho audiovisual. 

     A experiência complexa retomada pela voz no e do filme de Edna desvia e inverte as palavras, a matéria de suas memórias e as coisas que ela se pergunta cada vez mais: “por que?” “será que?” “qual a causa?” “é verdade?”. Dentro dessa impressão de estar correndo que a direção do filme segue com ela, percebemos um salto que responde, via não aceitação, transformando a fala em algo mais vivo capaz de contrariar frontalmente às reduções que foram impostas e que, no filme, sobretudo, essa voz e as mãos, fogem em seu movimento. Essa fuga aparece em EDNA, seja quando vemos diversas caixas de remédios serem entornadas de uma sacola, seja quando vemos fotografias de outro momento de Edna e ela comenta alguns dissabores, sejam as imagens de raio-x que aparecem na tela e sobrepõem a janela do quarto. Isso parece justapor as falas “a mesma Edna”, “Edna por fora, Edna por dentro”, como se expressasse através do filme EDNA que a Edna que escutamos e vemos algumas partes é muito maior que as coisas desta sociedade que pretende reduzir e parar as possibilidades de Edna e seu modo de perceber a própria vida e de estar no mundo. 

     EDNA, como nos é informado numa cartela do filme, foi realizado durante o curso FILMES URGENTES, parte do programa de educativo do projeto [ANTI] - Residência Fílmica do coletivo ANARCA FILMES no Espaço SARACVRA, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2018. Ao final, nos créditos, uma frase inscrita na tela chama a atenção e, como passa após estarmos em contato com a experiência do filme EDNA, cabe sempre lembrá-la: ANTES FEITO QUE PERFEITO, pois ela parece ressaltar uma espécie de concepção autêntica do fazer, sensível e audiovisual, mais aberta a novas formas, a errância, a divagação e a voracidade. 

Texto por Eduarda Figueiredo

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