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Um olhar diante "Da Festa ao Luto"

Da Festa ao Luto é uma das mostras paralelas que completam a terceira edição do Festival Online Filmes de Inquietação. Os filmes que compõem a mostra são André na Festa (2020), de Rubão, A Explicação das Árvores e Outros Bichos (2020) e A Transformação do Homem em Terra (2020), ambos de Aloísio Corrêa.


Da Festa ao Luto é uma viagem fúnebre. As narrações poéticas-associativas são contaminadas de certa afasia, e que, justapostas às imagens de arquivo, funcionam como um réquiem pós-moderno. Como já evidenciado no próprio título da sessão, a dicotomia dos elementos antitéticos são, nesses quase 30 minutos, amalgamados pela sensibilidade titubeante desses rapazes dos interiores.

Se na cartografia dos sonhos da juventude, as metrópoles atuam como um campo gravitacional onde a liberdade reina e tudo é possível, os filmes dessa sessão realizam a operação inversa, e é no caminho rumo às pequenas cidades que florescem as identificações, as angústias e as saudades de tempos indistinguíveis. O jogo entre as alegrias filmadas e revisitar mórbido pelos narradores tecelões é a metáfora do amadurecimento (tardio?), que ainda se agarra àquilo que já foi e é impossível de remontar.

A viagem, entretanto, não é perene. Entre festas que pululam, descansos dominicais e aventuras vespertinas, o trajeto faz curvas. A necessidade enferma de transformar saudade em filme é percebida nos lampejos de afobação e humor amargo que permeiam a sessão. O distanciamento entre quem monta e o material fílmico, tantas vezes celebrado como o ápice da virtuose cinematográfica, é, aqui, absolutamente rechaçado, e dá lugar ao envolvimento completo, imbricamento total entre as partes, constituindo um parâmetro outro do que é certo ou errado.

A filosofia de boteco, hieróglifo para a seriedade, se faz substância inconteste da sessão. Desavergonhada, a sessão reúne filmes encantados pelo próprio material que manejam e pelas figuras opacas que povoam a tela. Antes mesmo de serem filmes, os curtas-metragens são missivas apaixonadas entre a direção-remetente e seu objeto-destinatário.

Assim como a memória é fragmentária e dotada de associações kitsch, muitas vezes impensáveis de serem compartilhadas, os filmes da sessão abraçam as declarações de amor. E o que interessa e os une é a natureza das declarações: póstumas ou apenas saudosistas, os rapazes aprendem, na língua cinematográfica, a serem sensíveis. As repúblicas sem móveis, as bebedeiras, e as viagens de carro são o material bruto para a construção do afeto zureta. O amor reside na sarjeta, no casco sujo e nos terrenos baldios. O manuseio do arquivo é emocionado, e não tem vergonha de sê-lo.


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